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Transplante de córnea

A maioria das pessoas quando são informadas de que precisam de um transplante de córnea tem como reação inicial uma preocupação. Elas nem sempre sabem o que esperar em termos de recuperação visual, desconforto, episódios de rejeição e evolução pós-operatória. Esse texto visa esclarecer as principais dúvidas sobre o transplante de córnea, suas principais técnicas, indicações e resultados.

O que é transplante de córnea?

O transplante de córnea é uma cirurgia na qual um tecido doado (córnea) é usado para substituir totalmente ou parte da córnea doente de um paciente. É de longe o procedimento de transplante mais comumente realizado e mais bem-sucedido. Diferentemente de outras formas de transplante, os pacientes geralmente não necessitam de medicação imunosupressora e, na maioria dos casos, a rejeição não ocorre ou, quando ocorre, é tratada com somente com colírios. A córnea - a “janela transparente” na frente do olho - geralmente não possui vasos sanguíneos, portanto o sistema imunológico do corpo não detecta a cirurgia. Para a maioria dos pacientes, mesmo após um raro evento de rejeição, essa complicação não causa a perda do transplante.

Quais condições podem levar ao transplante de córnea?

Muitas doenças da córnea podem exigir um transplante de córnea. A causa usual é uma diminuição na transparência ou deformidade da forma da córnea que pode desfocar a visão sem melhora com óculos ou lentes de contato. As condições corneanas mais comuns que requerem cirurgia de transplante incluem ceratocone, edema da córnea e distrofias da córnea (distrofia endotelial de Fuchs).

De onde vêm as córneas?

Perder um ente querido é sem dúvida devastador; uma córnea doada a partir de um olho saudável é uma dádiva que persiste após a morte. "Doador" refere-se à pessoa que fornece a córnea; "Receptor" é a pessoa que recebe a córnea. Não é necessário combinar o tecido, a cor dos olhos ou o sexo nos transplantes de córnea. Geralmente tentamos igualar a idade geral, principalmente quando operamos crianças ou adultos jovens, pois esses indivíduos têm uma expectativa de vida muito mais longa. É um equívoco achar que, ao doar as córneas, o corpo seja desfigurado. Isso não é verdade. Apenas uma parte da córnea do tamanho de uma moeda é doada.

Antes da cirurgia

Seu cirurgião se encontrará com você no consultório e o examinará antes de decidir sobre a cirurgia. Testes e medições serão realizados no momento da sua consulta. Quaisquer perguntas serão respondidas e o consentimento informado (dando permissão ao seu cirurgião para realizar a cirurgia) será explicado e assinado. Você será registrado na fila geral estadual de transplante de córnea. Em nosso estado, normalmente leva de 3 a 6 meses para que a córnea torne-se disponível. Você será solicitado a usar antibióticos e outros colírios antes da cirurgia.

Depois da cirurgia

Deixe o curativo após a cirurgia até que o cirurgião o remova na sua primeira visita pós-operatória. Um "olho roxo" leve após a cirurgia com aparência preta e azul nas pálpebras é normal, e isso se resolverá espontaneamente em algumas semanas. O inchaço leve da pálpebra também é normal. Pode ocorrer presença de uma pequena quantidade de sangue na lágrima por mais ou menos uma semana e não é motivo de preocupação. O olho geralmente fica bastante vermelho após a cirurgia por algumas semanas. Um pano limpo, quente e úmido pode ser usado para limpar delicadamente a crosta das pálpebras. A maioria dos pacientes experimenta uma sensação de corpo estranho (como se algo estivesse nos seus olhos) por vários dias após a cirurgia. Muitas vezes, as luzes brilhantes podem ser desconfortáveis no início da recuperação. Esse desconforto melhora ao longo de vários dias. Em nenhum momento após a cirurgia você deve sentir dor intensa. Se sentir dor que não é aliviada pelo Tylenol, ligue para o seu cirurgião. A maioria dos pacientes pode retornar às suas rotinas habituais alguns dias após a cirurgia. Você pode até assistir TV logo após a cirurgia. A recuperação visual é gradual e depende da técnica cirúrgica, número de pontos, gravidade da doença de base e qualquer patologia associada. A visão geralmente é discretamente melhor após a cirurgia. No entanto, o resultado visual final só pode ser apreciado 6 a 12 meses após o procedimento.

Restrições pós-operatórias

A coisa mais importante a lembrar é não deixar que nada atinja seus olhos. Você precisará usar o protetor ocular à noite para evitar esfregar os olhos inadvertidamente enquanto dorme. O seu cirurgião lhe dirá quando interromper o uso deste protetor. Evite levantar objetos com mais de 10Kg nas primeiras semanas após a cirurgia. Além disso, não se incline com a cabeça abaixo da cintura até que seu médico diga que você pode fazê-lo. Atividades físicas intensas devem ser evitadas por pelo menos 1 mês. Piscinas e saunas também são proibidas por 3 meses. As precauções mais importantes que você pode tomar para proteger seus olhos envolvem usar o protetor à noite e óculos (de qualquer tipo) durante o dia para evitar um trauma nos olhos, o que pode comprometer o sucesso de sua cirurgia.

Principais técnicas cirúrgicas:

A córnea é composta por 5 camadas diferentes. De fora para dentro, são o epitélio, a membrana de Bowman, o estroma, a membrana de Descemet e o endotélio.

Cada uma dessas camadas pode ser afetada por doenças específicas. Às vezes, substituir apenas uma determinada camada pode ser benéfico. Apresentamos as principais técnicas cirúrgicas utilizadas no transplante de córnea.

1. Ceratoplastia penetrante (PK)

A ceratoplastia penetrante é a técnica mais antiga de transplante de córnea. Todas as camadas da córnea doente são substituídas pelo tecido doado. Geralmente, são necessários 16 pontos para fixar o transplante. Esses pontos precisam ser removidos cerca de 12 meses após a cirurgia. Nesta técnica, a recuperação visual é lenta e pode levar até 24 meses. Em 50% dos casos, talvez seja necessário usar lentes de contato rígidas para corrigir o erro de refração residual. Embora esteja sendo gradualmente substituída por outras técnicas, a ceratoplastia penetrante ainda pode ser usada em certas doenças que afetam várias camadas da córnea.

 

2. Ceratoplastia lamelar anterior profunda (DALK)

Nesta técnica, as camadas externas da córnea são as únicas a serem substituídas. Ceratocone e distrofias anteriores são as principais indicações para essa técnica. Sua principal vantagem sobre a ceratoplastia penetrante é o fato de que a camada interna da córnea do próprio paciente (endotélio) é preservada, minimizando a rejeição e resultando em um olho mais resistente. Pontos também são usados ​​para fixar o enxerto no local, embora geralmente sejam removidos mais cedo do que na ceratoplastia penetrante. A recuperação visual também é gradual, mas pode ser um pouco mais rápida que na PK. Lentes de contato rígidas também podem ser necessárias para corrigir o erro refrativo residual após a cirurgia.

3. Ceratoplastia endotelial automatizada de descemet (DSAEK)

Essa técnica é usada quando a doença é restrita às camadas internas da córnea e apenas essas camadas são substituídas. Suas principais indicações são a distrofia endotelial de Fuchs e a ceratopatia bolhosa. Ambas as doenças fazem com que a córnea se torne inchada, reduzindo a visão. A distrofia endotelial de Fuchs é um envelhecimento prematuro da córnea em uma doença transmitida geneticamente. A ceratopatia bolhosa geralmente envolve alguma cirurgia intraocular prévia. O DSAEK é feito através de pequenas incisões (+/- 4 mm) e geralmente requer pontos apenas para fechar esta incisão. Eles são removidos 1-3 meses após a cirurgia. Uma bolha de ar é usada para fixar o enxerto no lugar. Ele "empurra" o enxerto contra a córnea do próprio paciente para ser incorporado. Após a cirurgia, é necessário que os pacientes permaneçam deitados de costas por aproximadamente 2 horas, para que o ar possa manter o enxerto no lugar correto. A principal vantagem dessa técnica é a substituição seletiva de apenas a camada afetada da córnea, mantendo a integridade estrutural do olho e produzindo uma recuperação visual mais rápida, geralmente 6 meses após a cirurgia.

4. Ceratoplastia endotelial da membrana Descemet (DMEK)

Esta é a técnica de transplante de córnea mais avançada e é caracterizada pela substituição seletiva de apenas as células internas da córnea (endotélio). No DMEK, o tecido doado (um pedaço extremamente fino de aproximadamente 50 micrômetros - milésimos de 1 milimetro) é dobrado e inserido no olho do paciente através de micro incisões (pouco mais de 2 mm). Uma vez dentro do olho, uma bolha de ar é usada para desdobrar e fixá-la no lugar até que seja incorporada pela córnea do próprio paciente. Na maioria dos casos, não são necessários pontos e a recuperação visual geralmente é muito mais rápida. O resultado visual final pode ser apreciado em torno de 3 meses após a cirurgia e uma melhora significativa geralmente está presente mesmo antes disso. Como o tecido transplantado é extremamente fino e frágil, é necessária muita habilidade cirúrgica para lidar com o enxerto e pode ser necessário reinserir um pouco de ar nos olhos no pós-operatório. Essa técnica é usada na apresentação inicial da distrofia endotelial de Fuchs e ceratopatia bolhosa.

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